segunda-feira, 11 de junho de 2012

Fenícios

Um dos maiores enigmas da antiguidade, os fenícios sempre foram celebrados como habilidosos escribas que legaram ao Ocidente o moderno alfabeto, assim como os exímios navegadores que, tendo inventado a vela nos barcos, redefiniram os limites do mundo antigo. Além disso, foram os habilidosos artesãos cujas criações foram exaltadas até mesmo pelo poeta grego Homero, ao narrar o momento em que Aquiles recebe uma tigela de prata confeccionada pelos habitantes da cidade fenícia de Sidon, nos funerais de Patroclus.
Contudo, quem eram os fenícios, de fato? Além de suas raízes semitas, sua identidade étnica se mantém um mistério. O termo moderno Fenício é de origem grega, e deriva da palavra phoinikes, cujo significado refere-se à cor vermelho-púrpura associada ao tecido de cor púrpura confeccionado por esse povo. No entanto, a forma como eles próprios se denominavam ainda é desconhecida, sendo o termo Cananita o considerado mais plausível entre os estudiosos.
A questão a respeito da identidade étnica nos faz refletir sobre outra questão bastante relevante: teriam eles uma identidade nacional que uniria as suas cidades, formando um estado fenício coeso? Tiro, Biblos, Sidon e Arvad eram cidades muradas independentes, que raramente trabalhavam conjuntamente, salvo raras exceções. O Velho Testamento, ao se referir aos habitantes de tais cidades, não faz uma alusão à formação de tal estado. Assim, diferente dos vizinhos sírios ou palestinos, os fenícios podem ser considerados mais uma confederação de mercadores do que um país definido por limites territoriais. É possível afirmar, portanto, que o comércio marítimo, e não o território, seria o fator de coesão capaz de defini-los.
Os fenícios podem ser considerados membros uma civilização perdida. Suas histórias, mitologias, possivelmente gravadas em papiros, desapareceram por causa da intervenção humana assim como de condições ambientais desfavoráveis para armazenamento. Assim, as fontes utilizadas na elaboração de uma história fenícia são basicamente:
a - a Bíblia, mais especificamente o Antigo Testamento;
b - os anais assírios;
c - os autores gregos e latinos, como o já citado Homero, por exemplo;
d - e as evidências arqueológicas.

O recorte temporal utilizado para a produção deste texto vai da Alta Idade do Bronze, por volta de 1200 a.C., até a chegada de Alexandre, o Grande às terras fenícias, em 333 a.C.






Fenícia (em fenício:     , Knaˁn; em hebraico: כנען, Kna'an; em grego antigo: Φοινίκη, Phoiníkē; em latim: Phœnicia; em árabe: فينيقيا) foi uma antiga civilização cujo epicentro se localizava no norte da antiga Canaã, ao longo das regiões litorâneas dos atuais Líbano, Síria e norte de Israel. A civilização fenícia foi uma cultura comercial marítima empreendedora que se espalhou por todo o mar Mediterrâneo durante o período que foi de 1500 a.C. a 300 a.C. Os fenícios realizavam comércio através da galé, um veículo movido a velas e remos, e são creditados como os inventores dos birremes.[1]
Não se conhece com exatidão a que ponto os fenícios viam a si próprios como uma única etnia; sua civilização estava organizada em cidades-estado, de maneira semelhante à Grécia Antiga; cada uma destas constituía uma unidade política independente, que frequentemente se entravam em conflito e podiam dominar umas as outras - embora também colaborassem através de ligas e alianças.[2] Embora as fronteiras antigas destas culturas antigas fossem incertas e inconstantes, a cidade de Tiro parece ter marcado seu ponto mais meridional. Sarepta (atual Sarafant), entre Sídon e Tiro, é a cidade mais extensivamente escavada pelos arqueólogos em território fenício.
Os fenícios foram a primeira sociedade a fazer uso extenso, a nível estatal, do alfabeto. O alfabeto fonético fenício é tido como o ancestral de todos os alfabetos modernos, embora não representasse as vogais (que foram adicionadas mais tarde pelos gregos). Os fenícios falavam o idioma fenício, que pertence ao grupo canaanita da família linguística semita.[3][4] Através do comércio marítimo, os fenícios espalharam o uso do alfabeto até o Norte da África e Europa, onde foi adotado pelos antigos gregos, que o passaram aos etruscos, que por sua vez o repassaram aos romanos.[5] Além de suas diversas inscrições, os fenícios deixaram diversos outros tipos de fontes escritas, porém poucas sobreviveram até os dias de hoje. A Preparação Evangélica, de Eusébio de Cesareia, faz citações extensas de Filo de Biblos e Sanconíaton.



 Etimologia
 Sarcófago fenício encontrado em Cádis, Espanha, atualmente no Museu Arqueológico de Cádis. Acredita-se que tenha sido encomendado e pago por um mercador fenício, e construído na Grécia, com influência egípcia.
    O termo fenício, por intermédio do latim poenicus (posteriormente punicus), vem do grego antigo phoinikes, atestado desde Homero, e influenciado por phoînix, "púrpura tíria", "carmesim"; "murex" (que por sua vez vem de phoinos "vermelho cor de sangue").[6] O termo foi atestado no Linear B como po-ni-ki-jo, de onde teria sido emprestado do egípcio antigo Fenkhu (Fnkhw),[7] "povo sírio". A associação entre phoinikes e phoînix espelha uma antiga etimologia popular presente no fenício, que associava Kina'ahu ("Canaã", "Fenícia") com kinahu ("carmesim").[8] A região era conhecida entre os nativos como Kina'ahu, forma citada no século VI a.C. por Hecateu sob a forma (influenciada pelo grego) de Khna (χνα), e seu povo como Kena'ani.

Em termos de arqueologia, língua e religião, pouco separa os fenícios das outras culturas da região de Canaã. Como canaanitas, sua única diferença eram seus notáveis feitos marítimos. Nas tabuletas de Amarna do século XIV a.C., chamam-se de Kenaani ou Kinaani ("canaanitas"), embora estas cartas antecedam a invasão dos Povos do Mar em mais de um século. Bem mais tarde, no século VI a.C., Hecateu de Mileto escreve que a Fenícia era chamada anteriormente de χνα, um nome que Filo de Biblos adotou posteriormente em sua mitologia como seu epônimo para os fenícios: "Khna, que posteriormente foi chamado de Phoinix."[carece de fontes] Já no terceiro milênio a.C. expedições marítimas eram sido feitas pelos egípcios para trazer "cedros do Líbano".
O relato de Heródoto (escrito por volta de 440 a.C.) se refere aos mitos de Io e Europa:[9]
“    Os persas mais esclarecidos atribuem aos fenícios a causa dessas inimizades. Dizem eles que esse povo, tendo vindo do litoral da Eritreia para as costas do nosso país, empreendeu longas viagens marítimas, logo depois de haver-se estabelecido no país que ainda hoje habita, transportando mercadorias do Egito e da Assíria...

Estudos genéticos
Spencer Wells, do Genographic Project, realizou estudos genéticos que demonstraram que a população masculina do Líbano, Malta, Espanha, e outras áreas colonizadas pelos fenícios, partilham o mesmo cromossomo-Y M89.[10] As populações masculinas que habitam as áreas associadas com a civilização minóica e os Povos do Mar têm marcadores genéticos totalmente diferentes, o que indica que não existia relação ancestral entre os fenícios e estes povos.[11][12]
Em 2004, dois geneticistas da Universidade Harvard, importantes cientistas do Projeto Genográfico da National Geographic, Pierre Zalloua e Wells, identificaram "o haplogrupo dos fenícios" como sendo o haplogrupo J2, deixando aberto o caminho para estudos futuros.[13][14] A população masculina da Tunísia e de Malta também foram incluídos nestes estudos, e mostraram partilhar "contundentes" semelhanças genéticas com os libaneses. Em 2008 cientistas do Genographic Project anunciaram que "até um em cada 17 homens vivendo atualmente no litoral do Norte da África e sul da Europa pode ter um ancestral fenício direto em sua linhagem paterna."[15]
Ápice: 1200–800 a.C.
O historiador francês Fernand Braudel comentou em seu livro, A Perspectiva do Mundo, que a Fenícia foi um dos primeiros exemplos de uma "economia-mundial" cercada por impérios. O ponto alto da cultura fenícia e de seu poder marítimo costuma ser datado como o período que vai de 1200 a 800 a.C.
Diversos dos importantes centros urbanos fenícios, no entanto, haviam sido fundados muito antes disso: Biblos, Tiro, Sídon, Simira, Arwad e Beirute (Berytus) são citadas nas tabuletas de Amarna. A arqueologia identificou elementos culturais do zênite fenício já no terceiro milênio a.C.
Uma liga formada por cidades-estado portuárias independentes, juntamente com outras situadas em ilhas ou ao longo dos litorais do mar Mediterrâneo, era muito apropriada para o comércio entre a região do Levante, rica em recursos naturais, e o resto do mundo antigo. Durante o início da Idade do Ferro, por volta de 1200 a.C., um evento até agora desconhecido ocorreu, associado historicamente com a chegada de um povo vindo do norte, conhecido pelo exônimo de Povos do Mar. Estes povos enfraqueceram e destruíram as civilizações egípcia e hitita, respectivamente; no vácuo de poder que se seguiu à sua chegada, diversas cidades fenícias adquiriram importância como potências marítimas.
As sociedades fenícias estavam fundamentada em três bases de poder: o rei; o templo e seus sacerdotes; e o conselho de anciãos. Biblos foi a primeira cidade a se tornar um centro predominante, a partir de onde os fenícios saíram para dominar as rotas comerciais dos mares Mediterrâneo e Eritreu (Vermelho). Foi nesta cidade que a primeira inscrição no alfabeto fenício foi encontrada, no sarcófago de Ahiram (c. 1200 a.C.). Posteriormente, Tiro tornou-se a cidade mais poderosa; um de seus reis, o sacerdote Itobaal I (887-856 a.C.) estendeu seu domínio sobre a Fenícia até a cidade de Beirute, e conquistou parte da ilha de Chipre. Cartago foi fundada pelos fenícios; de acordo com Veleio Patérculo, sua fundação ocorreu 65 anos antes da fundação de Roma, pela tíria Elissa, chamada de Dido.[16] O conjunto de cidades-reino que formavam a Fenícia passou a ser conhecido por estrangeiros, e até mesmo pelos próprios fenícios, como Sidônia (Sidonia) ou Tíria (Tyria); os fenícios e cananeus eram chamados de sidônios ou tírios, à medida que uma cidade fenícia sucedeu a outra no poder.


Declínio: 539-65 a.C.

Ação naval ocorrida durante um cerco; desenho de André Castaigne, 1888-1889.
Ciro, o Grande, rei da Pérsia, conquistou a Fenícia em 539 a.C. Os persas dividiram a Fenícia em quatro reinos vassalos: Sídon, Tiro, Arwad, e Biblos. Estes reinos prosperaram, e forneceram frotas navais para os reis persas. A influência fenícia, no entanto, passou a diminuir depois da conquista; é provável que boa parte da população fenícia tenha migrado para Cartago e outras colônias depois do domínio persa. Em 350 e 345 a.C. uma rebelião em Sídon liderada por Tennes foi esmagada por Artaxerxes III; sua destruição foi descrita por Diodoro Sículo.[17]
Alexandre, o Grande conquistou Tiro em 332 a.C. após o Cerco de Tiro. Alexandre foi excepcionalmente cruel com a cidade, executando 2000 de seus principais cidadãos, embora tenha mantido o rei no poder. Em seguida tomou posse das outras cidades de maneira pacífica; o soberano de Árados submeteu, e o rei de Sídon foi deposto. A ascensão da Grécia helenística gradualmente tomou o lugar dos resquícios do antigo domínio fenício sobre as rotas comerciais do leste do Mediterrâneo. A cultura fenícia acabou por desaparecer totalmente em sua pátria de origem, embora Cartago tenha continuado a florescer no Norte da África, controlando a mineração de ferro e metais preciosos na Ibéria, e utilizando seu poder naval considerável e seus exércitos de mercenários para proteger seus interesses comerciais, até a eventual destruição pelas tropas romanas em 146 a.C., no fim das Guerras Púnicas.
Depois de Alexandre, a pátria fenícia foi controlada por uma sucessão de soberanos helenísticos: Laomedonte (323 a.C.), Ptolemeu I (320 a.C.), Antígono II (315 a.C.), Demétrio (301 a.C.), e Seleuco (296 a.C.). Entre 286 e 197, a Fenícia (com a exceção de Árados) foi dominada pelos Ptolemeus do Egito, que instauraram os sumos-sacerdotes da deusa Astarte (Eshmunazar I, Tabnit, Eshmunazar II) como soberanos vassalos de Sídon.
Em 197 a.C. a Fenícia, juntamente com a Síria, voltou para a mão dos Selêucidas. A região ficou cada vez mais helenizada, embora Tiro tenha se tornado autônoma em 126 a.C., seguida por Sídon em 111 a.C. Toda a Síria, incluindo a Fenícia, foi capturada pelo rei Tigranes, o Grande, da Armênia, de 82 a 69 a.C., quando o monarca foi derrotado pelo general romano Lúculo. Em 65 a.C. Pompeu, o Grande finalmente incorporou o território à província romana da Síria.









  





 Comércio
Ver também: Fenícios e o vinho

 
                                Moeda fenícia retratando um navio de guerra e um hipocampo.


Os fenícios foram alguns dos maiores comerciantes de seu tempo, e deviam muito de sua prosperidade ao comércio. Inicialmente mantinham relações comerciais apenas com os gregos, vendendo madeira, escravos, vidro e a púrpura de Tiro em pó. Esta célebre tinta de forte cor púrpura era muito usada pela elite grega para colorir suas vestes; o termo fenício vem do grego antigo phoínios, que significa "púrpura". À medida que o comércio e o processo de colonização se espalhou sobre o Mediterrâneo, os fenícios e gregos parecem ter, de maneira inconsciente, dividido aquele mar em duas partes; os fenícios navegavam pela (e eventualmente dominaram) parte meridional do mar, enquanto os gregos mantinham suas atividades nas costas setentrionais. As duas culturas se confrontaram muito esporadicamente, como na Sicília, que eventualmente foi repartida em duas esferas de influência, a fenícia no sudoeste e a grega no nordeste da ilha.

Prato fenício com engobo vermelho, século VII a.C.,
 escavado na ilha de Mogador, Essaouira, Marrocos.
 
Após 1200 a.C., os fenícios foram por séculos a principal potência naval e mercantil da região. O comércio fenício foi fundado com base na tinta conhecida como púrpura tíria, uma tinta de um púrpura profundo, derivado da concha do molusco gastrópode Murex, que anteriormente era encontrado com abundância nas águas costeiras do leste do Mediterrâneo, e que acabou sendo extinta. As escavações de James B. Pritchard em Sarepta, no Líbano atual, mostraram conchas esmagadas do molusco, e recipientes de cerâmica manchados com a tinta produzida no local. Os fenícios fundaram um segundo centro de produção da tinta em Mogador, no atual Marrocos. Produtos têxteis de cores brilhantes eram símbolos característicos de riqueza na sociedade fenícia, bem como o vidro, outro importante item de exportação. Os fenícios também trouxeram para a região do Mediterrâneo cães de origem africana e asiática, que acabaram por dar origem a diversas raças locais. O Egito, onde as vinhas não podiam ser cultivadas devido ao clima, comprava vinho dos fenícios do século VIII; este comércio está documentado de maneira destacada nos navios naufragados descobertos em 1997 no alto-mar, a 30 milhas a oeste de Ascalão.[18] Fornos de cerâmica em Tiro e Sarepta produziam as grandes jarras de terracota usadas para o transporte do vinho; o Egito pagava com ouro vindo da Núbia.
De outros lugares obtinham diferentes materiais, dos quais talvez os mais importantes sejam a prata, obtida da península Ibérica, e o estanho, da Grã-Bretanha (este último era fundido com o cobre (do Chipre), criando uma liga metálica mais durável, o bronze. Estrabão afirma que existia um comércio altamente lucrativo entre a Fenícia e a Britânia.
Os fenícios estabeleceram entrepostos comerciais ao longo do Mediterrâneo, dos quais o mais importante, estrategicamente, era Cartago, no Norte da África. Antigas mitologias gaélicas mencionam um influxo de fenícios/citas à Irlanda, liderados por Fênio Farsa. Outros fenícios também navegaram para o sul, ao longo da costa africana; uma expedição cartaginesa liderada por Hanão, o Navegador, explorou e colonizou o litoral atlântico da África até o golfo da Guiné, e, de acordo com Heródoto, uma expedição fenícia enviada para o mar Vermelho pelo faraó Necho II do Egito, por volta de 600 a.C., chegou até mesmo a circunavegar o continente e retornar, passando pelos Pilares de Hércules (o estreito de Gibraltar) três anos depois.



Cultura
Língua e literatura
 Ver artigos principais: Língua fenícia e Alfabeto fenício
O alfabeto fenício foi um dos primeiros alfabetos a ter uma forma rígida e consistente. Presume-se que seus caracteres lineares simplificados se originaram a partir de um alfabeto semítico pictórico ainda não atestado, que teria sido desenvolvido alguns séculos antes no sul do Levante.[19][20] O precursor do alfabeto fenício provavelmente tinha origem egípcia, como os alfabetos da Idade do Bronze Média do sul do Levante lembram os hieróglifos egípcios ou, mais especificamente, um sistema alfabético de escrita encontrado em Wadi-el-Hol, no Egito central.[21][22] Além de ter sido antecedido pelo proto-canaanita, o alfabeto fenício também teve como antecessor uma escrita alfabética de origem mesopotâmica chamada ugarítica. O desenvolvimento do alfabeto fenício a partir do proto-canaanita coincidiu com o início da Idade do Ferro, no século XI a.C.[23]
O alfabeto foi descrito como um abjad, uma escrita que não representa as vogais. As primeiras duas letras, aleph e beth deram o seu nome.


Sarcófago de Ahiram, no Museu Nacional de Beirute.
A representação mais antiga conhecida do alfabeto fenício foi a inscrição do sarcófago do rei Ahiram, de Biblos, que data no máximo do século XI a.C. Inscrições fenícias foram encontradas no Líbano, Síria, Israel, Chipre e diversas outras localidades até os primeiros séculos da Era Cristã. Os fenícios foram responsáveis por espalhar o uso de seu alfabeto por todo o mundo mediterrâneo.[24] Comerciantes fenícios levaram este sistema de escrita ao longo das rotas comerciais do mar Egeu, chegando a Creta e à Grécia; os gregos adotaram a maior parte das letras, alterando, no entanto, algumas delas para vogais, dando origem ao primeiro alfabeto real.
O idioma fenício está classificado no subgrupo canaanita do ramo noroeste da família linguística semita. Seu descendente posterior no Norte da África é conhecido como púnico. Nas colônias fenícias ao redor do Mediterrâneo ocidental, a partir do século IX a.C., o fenício foi definitivamente suplantado pelo púnico, variante que continuava a ser falada no século V d.C.; Santo Agostinho, por exemplo, cresceu no Norte da África e o idioma lhe era familiar.

 
Arte

A arte fenícia não tem as características exclusivas que a distinguem de seus contemporâneos; isto se deve por ter sido altamente influenciada por culturas artísticas estrangeiras, principalmente o Egito, Grécia e Assíria. Os fenícios que estudavam às margens do Nilo e do Eufrates conquistavam uma ampla experiência artística, e acabavam por desenvolver sua própria arte na forma de um amálgama de modelos e perspectivas internacionais.[25] Em artigo do New York Times publicado em 5 de janeiro de 1879, a arte fenícia foi descrita da seguinte maneira:
"Ela entrava nos trabalhos dos outros homens e aproveitava ao máximo sua herança. A Esfinge do Egito se tornou asiática, e sua nova forma foi transplantada para Nínive, por um lado, e para a Grécia, no outro. As rosetas e outros padrões dos cilindros babilônios foram introduzidos ao artesanato fenício, e passados desta maneira para o Ocidente, enquanto o herói do antigo épico caldeu primeiro se tornou o Melcarte tírio, e, posteriormente, o Héracles, da Hélade."
 
Religião

Os fenícios eram politeístas, e cultuaram diferentes divindades, muitas oriundas de culturas vizinhas, ao longo de sua história. As evidências do segundo milênio a.C. estão Adônis, Amon, Astarte, Baal Safon, Baalat Gebal ("Senhora de Biblos"), Baal Shemen (consorte de Baalat Gebal), El, Eshmun, Hail, Ísis, Melcarte, Osíris, Shed, o venerável Reshef (Reshef da Flecha), YHWY e Gebory-Kon. Já no milênio seguinte foram registrados outros, como Chusor, Dagon, Eshmun-Melcarte, Milkashtart, Reshef-Shed, Shed-Horon e Tanit-Astarte.
Os fenícios conservavam ritos bem arcaicos, como a prostituição divina e o sacrifício de crianças (em particular dos primogênitos) e de animais. A maioria dos rituais religiosos eram feitos ao ar livre.









                      Influência na região do Mediterrâneo

Cadmo combatendo o dragão; lado de uma ânfora em figuras negras da Eubeia, c. 560–550 a.C., Louvre.


A cultura fenícia teve um grande impacto sobre as culturas da bacia do Mediterrâneo no início da Idade do Ferro, que por sua vez também os influenciaram enormemente. Na Fenícia, por exemplo, a divisão tripartida entre Baal, Mot e Yam parece ter sido influenciada pela divisão que havia na mitologia grega entre Zeus, Hades e Posídon. Os templos fenícios dedicados a Melcarte nos diversos portos mediterrâneos passaram a ser conhecidos, durante o período clássico da história grega, como sagrados para Héracles. Histórias como o Rapto de Europa e a chegada de Cadmo também apresentam influências fenícias.

A recuperação da economia mediterrânea, após o colapso ocorrido no fim da Idade de Bronze, parece ser em grande parte obra dos comerciantes e príncipes-mercadores fenícios, que reestabeleceram o comércio de longa distância, como o existente entre o Egito e a Mesopotâmia, durante o século X a.C. A revolução jônia foi, pelo menos na história lendária, liderada por filósofos como Tales de Mileto e Pitágoras, ambos filhos de pais fenícios. Motivos fenícios também estão presentes no período orientalizante da arte grega, e desempenharam um papel formativo na civilização etrusca, na região da Toscana, da península Itálica.
Existem diversos países e cidades no mundo cujos nomes são derivados da língua fenícia, como Altiburius, cidade da Argélia, a sudoeste de Cartago, que vem do fenício "Iltabrush"; Bosa, na Sardenha, do fenício "Bis'en"; Cádis, na Espanha, do fenício "Gadir"; Dhali (Idalion), no centro da ilha de Chipre, do fenício "Idyal"; Érice (Erice), na Sicília, do fenício "Eryx"; Malta, ilha no Mediterrâneo, do fenício "Malat" ('refúgio'); Marion, cidade no Chipre ocidental, do fenício "Aymar"; Oed Dekri, na Argélia, do fenício "Idiqra"; e Espanha, do fenício "I-Shaphan" ('Terra dos Híraces'), latinizado posteriromente como Hispania ("Hispânia").















http://pt.wikipedia.org/wiki/Fen%C3%ADcia




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